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"œO trabalhador precisa gerenciar sua carreira como se fosse uma empresa"

Mudanças no mercado de trabalho estão sendo aceleradas tanto pela nova geração como pela pandemia

01/05/2021 13:58

A pandemia do novo coronavírus está acelerando processos e levando a um conjunto de mudanças na relação dos profissionais com o trabalho. Home office, reuniões virtuais e adaptação foram alguns dos termos acrescentados no vocabulário de muitos profissionais desde o ano passado. As mudanças mais drásticas, contudo, são aquelas que têm relação direta com a gestão da carreira de cada pessoa.

“Cada vez mais nós somos responsáveis pela construção de nossa carreira, da nossa própria história. Cada vez mais o trabalhador deve desenvolver liderança, flexibilidade, se adaptar às novas circunstâncias. A pandemia deu celeridade a esses processos. São características que seriam exigidas do trabalhador daqui a alguns anos e que foram trazidas agora pela pandemia”, observa a consultora em comunicação e negócio, Karina Matos.

Foto: Divulgação

Ela pontua que apesar dessa discursão ganhar notoriedade no cenário atual, há décadas o futuro do trabalho e os desafios das profissões já são analisadas por estudiosos da área. Não foi só a chegada da Covid-19 ou os avanços tecnológicos deste século que trouxeram novas perspectivas da relação com o trabalho. As mudanças são também desejos que chegaram com as novas gerações. 

“As gerações chegaram com novas vontades. A geração dos nosso pais pensava: “quando eu me aposentar”. A geração que veio depois não quer viver quando se aposentar. Ela aprendeu a investir mais cedo, viver mais cedo. É uma geração completamente diferente e afetou também a relação com o trabalho”, descreve Karina. 

Essas novas relações colocam em xeque, por outro lado, características pessoais do trabalhador. A consultora explica que há profissionais mais burocráticos - que preferem a formalidade -, enquanto outros preferem trabalhar de casa. Já uma parcela aposta no empreendedorismo. Cada trabalhador tem o desafio de analisar suas preferências e decidir qual caminho trilhar, mas, em todos, planejamento, gestão e capacitação devem estar presentes para caracterizar o profissional como adaptado ao mercado. 

“O trabalhador precisa gerenciar sua carreira como se fosse uma empresa. A pessoa precisa ter conhecimento da gestão financeira. O quanto ela ganha, o quanto ela gasta, quais são os custos da profissão”, afirma. 


“Deixar meu emprego e investir no meu sonho me faz 100% feliz”

“Não foi bem uma loucura, porque foi o que me fez bem. Consegui cuidar de mim, primeiramente, e me dedicar ao que eu realmente gosto, que é a maquiagem e a estética. Hoje eu sou 100% feliz”. A afirmação é da jovem Ozânnia Muniz, de 26 anos, ao comentar a reviravolta que sua vida profissional teve durante a pandemia do novo coronavírus, mas que trouxe a satisfação que ela desejava e o início da realização de um sonho que estava em stand by. 

Ozânnia é formada em Fisioterapia por uma faculdade particular de Teresina e teve a felicidade de conseguir uma boa oportunidade de emprego logo após a formatura. O trabalho em uma empresa de Home Care proporcionava um salário fixo no final do mês e garantia certa estabilidade na vida da jovem. Por isso, a ideia de empreender no segmento de maquiagem ficou parada, pois o dia a dia era dedicado quase que exclusivamente ao trabalho formal. 

Foto: Divulgação

A pandemia chegou no ano passado e varreu milhares de empregos, o que não foi o caso de Ozânnia. Mas ela mesma resolveu deixar a empresa para conseguir cumprir o isolamento e as medidas sanitárias determinadas pelas autoridades. Mas não só por isso. A rotina de fisioterapeuta já não lhe satisfazia mais. 

“Quando veio a pandemia no ano passado, tive que me reinventar em vários aspectos. Tinha que sair de casa para trabalhar, me expor, além de estar bem cansada do meu trabalho. Não estava satisfeita, não era o que me fazia feliz. Resolvi pedir demissão no auge da pandemia”, lembra Ozânnia. 

De uma família com um histórico de funcionários públicos, a exemplo da mãe e da avó que são professoras concursadas, Ozânnia teve de enfrentar as suspeitas da família. “Ouvi muito: ‘você não vai ter estabilidade, não vai conseguir se aposentar, é uma loucura’”, elenca. Porém, o apoio do esposo foi fundamental para ela se revestir de coragem e colocar em prática o novo planejamento de vida.

Mesmo sem capital para investir no tão sonhado estúdio de maquiagem, a jovem transformou um dos quartos de casa e montou uma estrutura básica para receber as primeiras clientes. “Tive que deixar de lado o medo. Fui avisando as amigas, uma pessoa gostava e avisava para outras. Mesmo diante da pandemia, não deixei de ter cliente”, afirma. 

Os resultados da escolha audaciosa apareceram logo nos primeiros meses. Primeiro veio a satisfação pessoal de estar atuando no próprio negócio. Em seguida, apareceu também o resultado financeiro. “Eu faço meu horário, tenho meu espaço, tiro tempo para cuidar de mim, para passear. Na empresa, eu tinha o salário certo no final do mês que era para pagar as contas. O lado negativo é não ter essa certeza. Mas com a maquiagem, eu ganho muito melhor. Recebi muitas críticas de que eu estava abandonando meu emprego, mas para mim compensou muito. Hoje eu sou 100% feliz”, resume. 

O futuro

Os planos para o futuro são muitos e tão audaciosos como o que tomou durante um dos períodos mais difíceis da economia brasileira. O que não está nos planos da jovem é retornar para um emprego formal em empresa privada ou pública. “Quero sair do meu quarto, ter um espaço. Quero crescer. Mesmo em meio à pandemia, eu conquistei um bom número de clientes e meu interesse é crescer muito no meu empreendimento que está me fazendo muito feliz”, finaliza.


“Meu destino é ser servidora pública”

Concluir o curso superior, ajudar a família e ter a estabilidade financeira foram algumas das realizações que o concurso público trouxe na vida da servidora Maiara Lima. Aos 27 anos e técnica em enfermagem concursada da Fundação Municipal de Saúde de Teresina (FMS) desde os 18, Maiara tem foco todo voltado para outro concurso, o de assistente social do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). 

“Quando terminei meu ensino médio, eu passei para Matemática na Universidade Federal do Piauí. Ao mesmo tempo, meu irmão passou para Administração. Nossa família é do interior de Campo Maior e não tinha condições de manter os dois estudando em Teresina. Optamos por meu irmão”, explica Maiara. “Eu escolhi fazer um curso técnico de enfermagem em Campo Maior”. 

A jovem conseguiu nova aprovação em curso superior, dessa vez para Serviço Social. O sonho de entrar numa faculdade não podia mais ser adiado. Ela iniciou o curso, mas para isso teve que conseguir um trabalho. O salário de R$ 200,00 já deu um ânimo para seguir com o plano de pé. Aos 18 anos, o concurso público apareceu na sua vida. 

“No final de 2011, fiz o concurso para técnico em enfermagem da Prefeitura de Teresina e fui classificada na primeira chamada. Porém, não tinha terminado o curso ainda. Entrei com mandado de segurança. Quando foi dia 3 de março de 2012, a data final para assumir, consegui uma liminar e assumi o concurso”, conta com emoção. 

“Foi uma das melhores coisas que aconteceu na minha vida, foi ter passado no concurso. Através dele consegui concluir meu curso, ajudar meu irmão a terminar o curso dele também, ajudei minha família e hoje não me vejo sem estar no serviço público. É uma área que me identifico, me dar muita satisfação, me dar uma segurança”, diz a jovem. 

O futuro

O empreendedorismo despertou as atenções de Maiara. Ela até chegou a investir em uma loja virtual de blusas femininas, mas a pandemia e o foco no concurso dos sonhos obrigaram a jovem a fechar o negócio. “Estou focando no projeto de passar no concurso do INSS. Me sinto realizada em servir ao público, saber que estou sendo útil na conquista dos diretos cidadãos. Meu destino mesmo é ser servidora pública”, conclui.

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